terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A morte doeria menos.

É como se ela não se conhecesse mais.
Ele morreu.
Ela não acredita.
Ela tenta falar pausadamente, tenta soletrar, tenta pensar com foco anormal sobre aquela ideia.
Mas ainda não consegue absorver.
Ela tenta se lembrar de qualquer coisa antes do acontecido.
Última palavra, beijo ou conversa.
Não consegue.
Ele foi embora tão rápido que ela nem ao menos se despediu.
Ele até quis falar, fez força, quase gritou mas não aguentou e cedeu.
Cedeu a dor, ao descanso eterno, a ausência e se foi.
E ela lá, parada.
Estatelada, com a dor de mil agulhas sendo lentamente enfiadas em seu coração.
Fazendo do mesmo um maltratado vudu.
Pobre da moça.
O seu rapaz se levanta da cama, que era deles, mas que nesse momento ele divide com outra
e junta suas roupas, envolvido em um misto de constrangimento e vergonha por aquela situação ridícula, tenta falar mas nenhuma palavra que faça sentido consegue ser posta pra fora, e ele então 
por fim, se retira.
A outra, que levou tudo da pobre moça ali paralisada, se retira também.
E ela ali, continua não se conhecendo.
Tenta se reconhecer na imagem do espelho a sua frente, mas não se acha.
E ele como previsto, morreu.
Morreu no pior lugar do mundo.
Na  alta estima em que ela o mantinha, na lembrança dela, 
na sua projeção.
E ligava desesperadamente.
E aparecia, e queria vê-la. 
Mas nada era como antes. Ela queria perdoar e não conseguia.
Ela murchou.
O coração desacelerou.
Não tem mais pra onde correr.
Ele é apenas um desenho em preto e branco.
Ele é menos, ele é apenas um rabisco descoordenado.
E ela? Ela o vela, junto ao resto das coisas dele que estão em 
uma caixa, ao lado da  agora, sua e apenas sua cama.
Ele não existe mais.
Ele nunca a perdoará, por ter sido quem partiu.
Ele com seu ego desmedido.
Como ela ousa? E por outro lado, ele sabe que perdeu quem mais amava e
agora, não tem mais volta.


Aline Vallim.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esqueci de sonhar.

Reencontrei minha melhor amiga durante o período do ensino médio, brigamos por alguma razão estúpida que nenhuma das duas se lembra. Não é a...