sábado, 7 de maio de 2022

Esqueci de sonhar.

Reencontrei minha melhor amiga durante o período do ensino médio, brigamos por alguma razão estúpida que nenhuma das duas se lembra. Não é a mesma coisa do que era, e eu não espero que seja mesmo. Quando damos tempo para a distância, ele trabalha nas relações, é normal. As lacunas se formam. Mas mesmo assim acho que estamos felizes em termos nos reencontrado. Ela me perguntou o que eu estava fazendo da vida e me perguntou também sobre meu sonho de ser atriz, perguntou se eu o tinha realizado. 

Eu nem sequer lembrava que um dia tinha cogitado essa possibilidade. Eu escutei ontem em uma série que vejo na Netflix que a vida é um equilíbrio entre nossos sonhos e nossa realidade. Claramente a minha realidade se sobrepôs a esse sonho que eu nem sabia que já tinha tido. 

Quantos sonhos eu esqueci?  Quantas vezes eu consegui emergir à superfície para respirar? Será que eu respirei? Essa pergunta me tirou um pouco do eixo, mas tanto que faz quase 2 meses que ela a fez e eu não consigo digerir. Eu fico aqui pensando quantos caminhos eu deixei de percorrer por medo ou simplesmente não saber por onde começar. Fico tentando focar em como tenho gratidão por num momento tão turbulento da história, eu ter um emprego, uma casa, comida. Mas isso é o básico e eu só gostaria de saber quantos sonhos a gente enterra vivo. Quantos sonhos e urgências se sobrepõem e nos deixam reféns. Eu simplesmente não lembrava do meu sonho, eu simplesmente esqueci de lutar por um objetivo e isso é exatamente o que o sistema (capitalista) quer de nós. Que nos esqueçamos de nós mesmos. Que não evoluamos, que não nos libertemos. 

Mas talvez seja culpa minha também, eu mesma me perdi na rotina, eu mesma me perdi na zona de conforto dos boletos pagos, das saídas no fim de semana, nas compras (também online) de coisas que não precisamos e a sensação que isso proporciona, nos horários estabelecidos, nos limites invisíveis impostos por sei lá quem à nossa vida. Que loucura eu não lembro de um sonho. Ainda não consigo aceitar isso. Estou indignada. Quantas vezes eu coloquei planos nas gavetas da mente? Quantas vezes eu esqueci de quem realmente sou porque estava como um rato de laboratório presa a uma realidade inventada. Será que esse ainda é meu sonho? Será que tive algum sonho depois desse sonho? 

 Eu sou a figura central da minha vida, e você tem que ser a figura central da sua também. Mas o que acontece quando não sei quem sou? Quando não me reconheço? O que acontece? E agora como faço para tentar me lembrar de mim, dos sonhos, do que soterrei por falsas urgências. Como faço para me reaver. Acho que o primeiro passo é exatamente esse, perceber. Acho que a partir daí conseguimos dar os passos seguintes. Que eu consiga. 


Esse texto é só pra lembrar que eu esqueci de sonhar. Não esqueça de sonhar. Não caia nessa armadilha.

NÃO ESQUEÇA DE SONHAR. 


                                                                                                                                             Aline Vallim. 





sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Saudade de ser rasa.


Eu volto sempre em quem eu fui, sempre indagando sobre minhas escolhas. 

Será que foram certas? Será que foram minhas? Ou motivadas por informações injetadas no meu subconsciente? Eu me arrependo de algumas delas, porque apesar de terem sido minhas, foram precipitadas. Foram passos mais longos do que as pernas puderam dar naquele momento, mas também temos que entender que erramos. Precisamos nos perdoar. 

Eu, vira e mexe, sinto falta da menina que não saia de casa sem maquiagem, com cabelo alisado, com salto alto. Não pela estética em si mas por saber que quando eu era tudo isso, eu também era menos consciente. Sabedoria traz tristeza. Eu tenho saudade de ser rasa. De ser menos madura, menos responsável, menos desconstruída. Porque o descontentamento com o mundo e com a realidade só te deixa mais para baixo. Saber que o que move o mundo é o dinheiro, saber que preconceitos ainda impedem pessoas de conseguir o que merecem, saber que pessoas interesseiras vão para onde elas têm mais a ganhar. Saber que por mais que você ame alguém, não quer dizer que essa pessoa terá o mínimo de reciprocidade. Saber que a maldade humana, mesmo não superando a bondade, nos deixa um pouco menos inocentes. 

Eu penso que eu amaria voltar a não saber, mas também não gosto de pensar que eu poderia ser menos do que sou hoje. Não gostaria de considerar a possibilidade de não estar caminhando em direção à minha expansão mental e intelectual. É como dizem quando falam sobre o preço ser alto e de fato o é. 

Mas o que pode ser feito? Fico pensando em terapias, mantras, formas, jeitos de tentar retornar à antes mesmo já tendo minha bagagem mental e percebo que é inútil. Se a gente atravessa um determinado ponto em qualquer relação, inclusive na relação de nós mesmos com quem somos não há possibilidade de retorno. Não dá para "dessaber", "desver" o que foi descoberto. Eu espero que essa culpa passe. Eu espero que essa sensação cesse e eu de fato consiga ver o lado bom do entendimento. O lado cintilante do conhecimento e da sabedoria. 


Aline Vallim. 



segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Fisioterapia emocional

Arquivos abrir-se para novas oportunidades | Alto Astral



Por vezes a gente começa a se perder de novo, justamente quando tem certeza de que está tudo certo. Tudo decidido. Várias perguntas sem resposta, dúvidas, questionamentos. Tantos sentimentos que acabam, persistem, recomeçam, surgem. É parte do que somos. É parte da viagem até o nosso destino final. É ser ser humano. Gente. Carne trêmula e osso. Eu passei por tantos processos durante a vida, eu enfrentei tantos medos, tantas paranóias, eu superei amores, e quando digo amores não me refiro somente aos amores românticos, me refiro a todos eles. Topos os tipos de relações. Amores que podem ser tóxicos, te transformar em quem você definitivamente não é. Te deixar insegura, mal, desgastada, te sugar. Te abusar. 

Eu amo esses processos, eu amo me (re) descobrir, me encontrar de novo em um cenário totalmente diferente. Eu não tenho limites, impedimentos, preconceitos. Meu coração e quem eu sou não usa barreiras físicas para se auto sabotar. Eu vivo o que quero viver. Sempre fui assim. Vivenciar esses processos é combustível, é força, é energia. Não sou presa a nenhum rótulo. Tenho verdadeiro pavor disso, inclusive. Mas definitivamente, aprendi que ser bicho solto não quer dizer que eu não vá voltar aos medos. Que não retorne a algumas inseguranças. A idade muda você, muda seu corpo, muda seu metabolismo, muda suas perspectivas, muda sua tolerância. Tudo muda. A gente pode ficar preso à nossa antiga imagem, à nossa antiga disposição para com a vida, seja ela física ou de temperamento. Mas a gente precisa lembrar e relembrar sempre que precisamos ser nossos melhores amigos. Qual é o sentido de não se tratar com o carinho que você trata o outro? Qual é a razão de se tratar com tanto ódio, de se maldizer ou ser tão implacável?  Somos tão plurais, diversos, complexos. Lidar com nossos traumas, limitações, com padrões aos quais somos expostos desde tão novos e quase nunca conseguimos alcançar é além de cansativo, complicado. Não é só superar e pronto. Existem tantas questões a serem resolvidas. A gente vai e volta. Dá dois passos pra frente e quatro para trás. E tá tudo bem. A nossa cura não está na velocidade. Não tomamos um remédio e ficamos bem. Precisamos de fisioterapia emocional. É um longo caminho às vezes. E quase sempre o alívio é intermitente. 

Mais do que um texto para clarear seus pensamentos e te dizer que você não está só. Essas palavras são um lembrete a mim mesma que o caminho para a evolução dói. Que mudar e não ser mais quem um dia fomos, é exatamente o que devemos fazer para sermos quem queremos ser. Seja gentil com todos, mas não esqueça também de ser consigo mesmo. 


Aline Vallim. 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

E o seu maior medo, qual é?

Não existe o amanhã. Não existe o depois de amanhã, não existe o depois e tampouco os seus planos para o futuro. Não existe futuro. A gente se agarra no futuro porque no fundo há o medo, e é tão confortável adiar os planos que você nunca teve certeza se aconteceriam, ou até mesmo teve medo de que acontecessem e colocar a culpa no futuro. O futuro é zona de conforto. É auto sabotagem. O futuro é desculpa.
Ou a gente vê isso e encara da melhor forma possível ou não fazemos nada. Nunca.
Eu quero viver todas as possibilidades, eu quero ter dado todas as chances que meu coração pedir. Para todos. Para tudo. Eu quero esgotar os "e se" que nos assombram.
Do que você tem medo?
Eu pensei que pensaria em mil respostas para essa pergunta, no entanto não consegui. Pensei que de repente, a minha falta de certeza para a minha vida profissional seria uma possível resposta à essa pergunta. Pensei. Talvez a solidão, mas não qualquer solidão. A solidão da falta de quem eu mais quero. De quem faz falta, de quem eu um dia, conheci. Alguns nomes que me vêm a cabeça.
Esse é um medo, mas se a solidão vier a acontecer, a gente supera. Ou talvez não, mas se acostuma, pelo menos.
O meu maior medo? Depois de um longo tempo me questionando e pensando incessantemente nessa pergunta, eu encontro um. E é não ser clara, é não me fazer entender a ponto restarem dúvidas. É como se fosse uma fixação oral. Esse é o meu medo. O maior. A sensação de eu não ter feito o possível e o impossível, a ponto de que não percebam. Não entendam.  Eu não quero que algo deixe de acontecer ou aconteça de uma forma menor, menos rica, por eu não ter deixado claro. Por A mais B.
Então, eu exponho. Me exponho. Me deixo toda à luz, nua, para que não seja possível um erro de leitura ou interpretação. Há quem diga que eu me abra muito, mas eu não sei ser pouco. E isso não é ruim.
Acho por vezes, que não consigo expressar com atitudes, então eu abro a boca. E afio os dedos que já são afiados por natureza, e escrevo.
Esse é o meu medo. Acho que nem tem nome específico para esse medo, não inventaram.

Eu comecei a escrever sem saber qual era a razão desse ajuntamento de palavras, mas acho que é essa mesmo. O medo. O que deixamos de fazer por medo, por covardia. Por medo de ser infeliz e de ser feliz também. Pelo peso que esmaga o coração e não nos deixa respirar. E deixa eu te falar meu bem, que nada nessa vida vale mais do que você fazer o possível e o impossível para ser feliz. E que se mesmo depois disso, ainda estiver triste, você sabe que não foi por conta de falta de atitude ou de falar o que precisava ser dito. Se você morresse amanhã, teria dito o que precisava ser dito?

"Eu te amo."

"Você é importante."

"Tô com medo."

"Me ajuda."

"Você é tudo para mim."

"Não vai embora!"

"Volta!"

Você teria dito tudo?


________________E o seu maior medo? Qual é?__________________



Aline Vallim.

sábado, 30 de setembro de 2017

Livre mesmo presa.

Eu com um cigarro aceso e  uma taça e vinho, ele deitado nu na cama. Eu tento desenvolver as ideias para transcrever o que sinto, mas a verdade é que ele me fez sentir como eu nunca, jamais esperaria sentir. Não agora. Eu me senti feliz. Bem agora, aqui, vivendo o que eu vivo e sentindo o que eu sinto. Pensando que seria impossível tirar a mente das coisas que me deixam triste. A gente se esquece que não pode perder tempo e que se algum contexto não parece favorável e se você já fez o que tinha para fazer, você apenas sai andando pra frente, sempre. Se move pro mundo se mover.
Ele levanta, vem ler o que eu to escrevendo, eu escondo o papel, me diz que eu tenho que parar e dar atenção à ele. Porque ele já tá com saudade e vontade, me faz cócegas algo que eu não gosto muito porque me apavora. Mas ele pode. Ele segue insistindo para eu largar a caneta, mas não dá. 
Ele me inspira. 
Eu larguei a caneta, fui pra cama. Fui dele, toda. Pela quarta vez nessa mesma noite, a gente fuma, bebe e come, volta pra cama. Joga, sorri, ri, vê filme. Filme chato, a gente para. E se toca, toca mais. E a gente fica molhado de suor e tesão, ele me fez esquecer, pelo menos por hora, me fez gozar, me fez rir. Meu corpo no dele, sincronia inesperada, poesia, charme, leveza, alívio. A vida é sempre feita de encontros, e por mais que algum encontro em particular não possa ser superado por outros, porque na verdade não pode mesmo.Vou te contar com toda a sinceridade que tento ter e reproduzir sempre: há outros encontros, bons de diferentes formas, outros tamanhos, sabores e cheiros. A gente precisa se manter aberta, livre mesmo presa, se deixando flutuar por aí pra não acabar emaranhada em sentimentos que não podem ser vividos e por essa razão precisam ser deixados para trás. 
Se é entrega o que eu precisava além de toda a que já era minha, você me dá de antemão sem eu nem ao menos pedir, a sua. 

"Toma!" 
"Sente." 

"Me sinta". 

Você me diz sem precisar falar. 
Um dia que pode ter mudado tudo, ou pelo menos me lembrado 
que eu continuo sendo a pessoa mais viva que eu conheço e continuo sendo.


Aline Vallim. 

domingo, 6 de agosto de 2017

O Universo quer falar.

Eu levei tanto tempo para escutar quem não tem boca.
Até agora, sentada aqui na frente desse papel e segurando essa caneta, te falando sobre o tempo e o que ele me fez, não sei se ainda consigo ouvir com perfeição. Mas já sei que há sinais e mensagens que são mandados à nós e que se não estivermos atentos, simplesmente os perdemos. 
Saber disso já é um trunfo, mesmo que de vez em quando ainda percamos, por simples distração, alguns avisos. O universo tenta falar com você de todas as formas quando precisa te dizer algo. Ele se desespera, mesmo. Ele manda até whatsapp, ele bate na porta, ele desenrola bem de frente aos seus olhos situações que de alguma forma chamem a sua atenção. Ele fala com você usando a sua própria mente. Mas há momentos em que nem nela, prestamos atenção. 
E lá vamos nós deixando escapar mais uma vez, uma das formas que o mundo e sua forma eficaz de girar, utilizam para levar-nos, algum recado.
Mas inesperadamente, você fica em paz. Depois de tanto se debater, você cede. Se entrega ao inevitável. É como se o pescador olhasse para o pescado esperando apenas que o mesmo se convença de que não adianta mais lutar. Assim é o Universo, a vida e nós, algumas vezes. 
Em algum momento, é como se o seu inconsciente começasse a absorver os inúmeros recados mandados. E esse entendimento se alastrasse, se tornando totalmente consciente. Você sabe que deve diminuir a velocidade, você sabe que é melhor parar. Mudar a direção, o foco. 
Não há o que fazer. Pelo menos não agora. Relaxe, é só esse momento. 
Não é para sempre. Não é definitivo. Respira.
Como quem ao se afogar, para de chocar-se contra a água e bóia.
Não lute mais, só se desarme, aceite, tranquilize-se. Viva exatamente o que precisa viver. Talvez seja exatamente isso, o que a vida quer. As coisas vão se acomodando como tem que ser, sempre. O mundo vai continuar amanhã.

Resiliência. 

Aline Vallim. 

sábado, 29 de julho de 2017

Vontade.



Eu deitada ao seu lado
o calor que emana do seu corpo
bate em mim como a saudade
que sempre senti de você
mesmo antes de te conhecer.
Até sem te reconhecer.
Sua anatomia, conspicuidade.
Essa vontade.
Meus dedos resvalam com
carinho pela sua fronte.
Me perdi em você e não sei onde
me reencontrar.
É como se eu tocasse
o portal que me leva
diretamente para outra dimensão.
Que me transporta para a imensidão.
Tão cheio de culpas, errante
como qualquer tripulante
dessa embarcação.
Tão meu. Maravilhoso.
E é como se eu tivesse uma dívida 
com o Universo por ter cedido 
uma parte da sua vida
pra eu poder escrever com você.

Aline Vallim.

Esqueci de sonhar.

Reencontrei minha melhor amiga durante o período do ensino médio, brigamos por alguma razão estúpida que nenhuma das duas se lembra. Não é a...